Memorial da Feira

Feira de Santana em dois documentários do Cinema Novo

21/1/2021, 17:56h

Feira de Santana aparece de formas diferentes, mas igualmente emblemáticas, em dois documentários do Cinema Novo que estão sendo exibidos no Memorial da Feira. Em um deles, a zona rural do município serve como cenário para um belo mas melancólico registro cinematográfico de uma importante manifestação da cultura popular em vias de extinção: o canto de trabalho na labuta cotidiana de cortadores de cana. Em outro, o cenário é a zona rural de Riachão do Jacuípe, e também mostra as agruras e os lampejos de felicidade de trabalhadores rurais, mas o diretor, embora nascido naquela cidade, tem seu nome mais vinculado a Feira de Santana, pois foi aqui que teve sua formação intelectual e deu os primeiros passos como um dos principais cineastas do Brasil.  


No primeiro caso, trata-se de “Cantos de Trabalho”, uma trilogia realizada pelo cineasta Leon Hirszman entre 1974 e 1976, registrando as cantorias dos trabalhadores na zona rural do Nordeste, tendo em vista o desaparecimento dessa tradição diante da modernização do campo. São três curtas-metragens subintitulados Mutirão, Cacau e Cana-de-açúcar, sendo este último filmado em algum lugar da zona rural de Feira de Santana onde havia plantações de cana. A narração é do poeta Ferreira Gullar.  


Sobre essa trilogia, escreveu o também cineasta e professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Ian Schuler, na Revista Beira, em dezembro de 2017:  


“A produção dos filmes acontece mais de uma década após uma série de processos históricos que alteraram o caráter do movimento cinematográfico do qual Hirszman foi um dos precursores, o Cinema Novo. A progressão da ditadura militar em fins dos anos 1960, a continuidade das derrotas da esquerda a nível mundial (...) e, mais importante para o Cinema Novo, a perda da inocência em relação ao porvir revolucionário do povo, levaram o grupo de cineastas a rever as suas premissas e a reposicionar o seu arsenal. (...) Assim, Cantos de Trabalho é filmado em uma época de desencanto, quando já se distanciava a esperança de que a classe trabalhadora fosse, enfim, arrebentar com as próprias correntes.”  


O segundo documentário é “Sob o ditame de rude almajesto – Sinais de Chuva”, produzido em 1976, na zona rural de Riachão do Jacuípe, por Olney São Paulo. O filme mostra a sabedoria do homem do campo em identificar e interpretar os sinais da natureza que podem anunciar a chegadas das chuvas no sertão. Sobre essa obra, escreveu o também cineasta e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Francisco Gabriel Rego, no Blog Feirenses, em 15 de agosto de 2016:  


“Adaptação de uma crônica de Eurico Alves Boaventura, também intitulada Sob o Ditame de Rude Almajesto, o curta assimila características próprias do texto do cronista feirense. A polifonia das vozes, que no texto constitui uma miscelânea de opiniões sobre o saber sertanejo, no filme ganha uma conotação bem especial: o de apresentar os sertanejos como portadores de um conhecimento em diálogo com o espaço. (...) É assim que, no documentário, o cineasta constrói um aspecto quase que mitológico do sujeito sertanejo, imerso na paisagem, sendo raras as vezes em que a natureza é apresentada sozinha. O homem é aquele que dá sentido ao espaço, pois sem o homem nada daquilo faz sentido.” Os dois documentários podem ser vistos na seção Relíquias da Feira. O Memorial da Feira é um portal mantido na internet pela Prefeitura de Feira de Santana, através da Secretaria de Comunicação Social. O endereço é www.memorialdafeira.ba.gov.br. 

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Rollie E. Poppino, o primeiro historiador da Feira de Santana

27/11/2020, 13:27h

É praticamente inevitável. Qualquer estudo mais aprofundado sobre a história de Feira de Santana não pode deixar de citar, entre as fontes, o nome de Rollie Edward Poppino. O historiador norte-americano esteve nessa cidade na primeira metade da década de 1950, pesquisando sobre a história da Princesa do Sertão, para a elaboração de sua tese de doutorado na Universidade de Stanford, intitulada “Princess of the Sertão: A history of Feira de Santana”. 

Produzida entre os anos de 1951 e 1953, a tese foi depois transformada no livro “Feira de Santana”, que só viria a ser publicado em 1968, pela Coleção Baiana da Editora Itapuã. Mesmo sendo uma raridade, encontrado apenas em algumas bibliotecas públicas e em poucos acervos particulares, mas amplamente transcrito e fotocopiado, no todo ou em parte, por estudantes, pesquisadores ou amantes da história feirense, o livro de Poppino tem sido fonte inesgotável para estudos sobre Feira de Santana e também para a elaboração de políticas públicas no município. 

Considerado um clássico e um marco na historiografia feirense, “Feira de Santana” abrange o período entre 1860 e 1950, abordando os diversos aspectos da história da cidade, desde as condições econômicas da origem e do crescimento do município, até os seus avanços nas áreas da urbanização, da educação, da cultura e das tecnologias, na primeira metade do século XX. Poppino realizou suas pesquisas sob a coordenação do médico e antropólogo baiano Thales de Azevedo, como parte do Projeto Columbia, uma parceria entre a Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, e a Secretaria de Educação e Saúde do Estado da Bahia, cujo titular era o educador Anísio Teixeira.

Essa história é contada em vídeo publicado no Memorial da Feira, portal mantido na internet pela Prefeitura de Feira de Santana, através da Secretaria de Comunicação Social. Os entrevistados são a professora e doutoranda em História, Larissa Penelu; o professor e doutor em Estudos Étnicos, Bel Pires; e Carlos Brito, coordenador do Núcleo de Preservação da Memória Feirense Rollie Poppino, mantido pela Fundação Senhor dos Passos. O endereço do portal é www.memorialdafeira.ba.gov.br.

 

 

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Alcina Dantas, a primeira multiartista de Feira de Santana

30/10/2020, 11:2h

Muito da riqueza cultural desenvolvida nas últimas cinco décadas em Feira de Santana deve-se, em grande parte, a uma mulher de múltiplos talentos. Uma multiartista, como se diz hoje em dia. Era Alcina Gomes Dantas, ou mais simplesmente Alcina Dantas. Ela foi a responsável pela formação artística e intelectual de muitas crianças e adolescentes, que, por sua vez, transmitiram para filhos e netos os seus ensinamentos e o amor pelas artes e pela cultura.

Nas décadas de 1950 e 1960, Alcina Dantas animou o cenário cultural de Feira de Santana, juntamente com sua irmã, Esterzinha Dantas. Alcina era poeta, musicista, artista plástica, autora e diretora de teatro, e animadora de programas de auditório nos primeiros anos da Rádio Cultura. Também tocava piano na Igreja dos Remédios, acompanhando as celebrações das missas, e no antigo Cine-Teatro Santana, fazendo a trilha sonora dos filmes do cinema-mudo. 

A vida de Alcina Dantas está no Memorial da Feira, portal mantido na internet pela Prefeitura de Feira de Santana, através da Secretaria de Comunicação Social, e é contada por duas de suas ex-alunas, a educadora Leny Madalena da Silva e a professora e escritora Neuza Brito Carneiro. O endereço do portal é www.memorialdafeira.ba.gov.br.

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A história de Geminiano Costa, o professor dos negros e pobres

7/10/2020, 11:21h

Qualquer feirense, nascido ou radicado em Feira de Santana, conhece a Rua Geminiano Costa, uma das mais importantes artérias da cidade. É ali que estão situados o Ginásio de Esportes Péricles Valadares, o Centro de Saúde Especializado Dr. Leone Coelho Leda, a Biblioteca Municipal Arnold Silva, o Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira, e a sede do Fluminense de Feira.

A importância dessa rua nos diversos aspectos da vida da cidade corresponde à grandeza da personalidade histórica que lhe empresta o nome. Mas pouca gente sabe quem foi Geminiano Alves da Costa, nome completo do educador negro que deu uma decisiva contribuição ao sistema educacional de Feira de Santana, nos primeiros anos da República, no final do século XIX e início do século XX.

Geminiano Costa nasceu em 1867, portanto antes da Abolição da Escravatura, que só viria a acontecer 21 anos depois. Era filho de mãe solteira e, apesar de negro, nasceu livre, porque era proveniente de uma família de escravos alforriados. Foi apadrinhado por um rico comerciante da cidade e, graças a isso, conseguiu estudar e tornou-se aluno-mestre, título conferido pelo Externato da Escola Normal da Bahia, o que lhe permitiu se dedicar ao magistério.

E foi como aluno-mestre que Geminiano Costa passou a ensinar as primeiras letras a crianças pobres e negras, na aula-pública que funcionava em sua própria residência. Foi também professor na primeira escola municipal de Feira de Santana, inaugurada em 1918 na Praça Fróes da Motta, e que mais tarde viria a ser denominada Escola Maria Quitéria. Geminiano Costa também foi diretor e professor de adultos na Escola para Pobres, aula noturna para trabalhadores fundada em 1903 pela Conferência de São Vicente de Paulo, e que funcionou primeiro na Igreja dos Remédios, depois no prédio da Sociedade Montepio dos Artistas Feirenses. E implementou o primeiro censo escolar realizado no município, para identificar as deficiências educacionais da população carente da cidade.

A história de Geminiano Costa é contada pela professora e mestre em História, Daiane Oliveira, em mais um vídeo produzido pelo Memorial da Feira, portal mantido na internet pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Comunicação. O endereço do portal é www.memorialdafeira.ba.gov.br.

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Memorial da Feira traz a biografia da feminista feirense Edith Mendes

9/9/2020, 15:51h

A primeira mulher a ingressar na Academia de Letras da Bahia era de Feira de Santana. Trata-se de Edith Mendes da Gama e Abreu, que foi também uma das pioneiras do feminismo na Bahia e no Brasil. Edith Mendes nasceu em Feira de Santana no ano de 1903, e era filha do Coronel João Mendes da Costa, que foi prefeito da cidade entre os anos de 1930 e 1933.

Depois de estudar no Colégio Nossa Senhora de Lourdes (hoje Colégio Padre Ovídio), Edith Mendes foi concluir os estudos em Salvador, onde se formou em Magistério pelo Educandário Sagrado Coração de Jesus e tomou cursos de Canto, Inglês, Filosofia, Literatura Geral, Literatura Luso-Brasileira e Literatura Francesa. 

A partir daí, ela iniciou uma brilhante carreira como educadora, tendo sido, entre outras coisas, inspetora de Educação do Ensino Secundário do Ministério da Educação e Cultura; fundadora e professora da Faculdade de Filosofia da Bahia; membro do Conselho de Educação e Cultura; delegada do Governo da Bahia e conferencista no I Congresso de Ensino Regional; e presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, tendo representado essa entidade no I Congresso Brasileiro de História, em Brasília. 

Edith Mendes também foi uma das mais destacadas feministas do Brasil. Fundou, em 1931, a Federação Baiana pelo Progresso Feminino, e foi delegada do governo da Bahia na I Convenção Feminista Nacional, em Salvador, e no II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, em 1931. 

A educadora e feminista feirense também se destacou como articulista e escritora, tendo sido autora de mais de duzentas conferências e vários livros de ensaios, ficção e reflexões, entre eles Ruy e Deus, O que a vida me tem dito, A Cigana e Problemas do Coração. 

Em 1938, tomou posse na Academia de Letras da Bahia, que, por causa dela, alterou o Estatuto, pois antes só permitia a participação de homens. (Veja, acima, foto da posse).

A vida da educadora e feminista feirense é contada pela escritora e pesquisadora Lélia Fernandes, em vídeo que está sendo exibido no Memorial da Feira, portal mantido na internet pela Prefeitura de Feira de Santana, através da Secretaria de Comunicação Social.
O portal pode ser visto no endereço www.memorialdafeira.ba.gov.br.

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