Manuel de Emília - uma bela história de vida construída com fé
Desportista, religioso, artista, festeiro, sobretudo um homem de bem, Manuel de Emília (Manuel Fausto dos Santos) foi uma figura presente na comunidade de Feira de Santana durante décadas, com uma impressionante vitalidade e inteligência, tornando-se merecedor da homenagem: a rua com seu nome no Tanque da Nação, aliás, muito aquém do que ele deveria ter recebido da cidade.
Nascido em 1898 em Irará, filho de Manuel da Circuncisão e dona Emília, ele veio para esta cidade com os pais, com pouco mais de dois anos de idade. Dona Emília foi incumbida de trabalhar na casa do padre Amílcar Marques de Oliveira, então pároco da Igreja Matriz, entre 1933 e 1945. A Matriz é a atual Catedral de Santana. Inteligente, vivaz e obediente, o garoto caiu nas graças do padre, que iniciou sua educação com princípios religiosos.
Coroinha até os 15 anos, o garoto Manuel teve uma educação sólida, aprendendo o latim, já que as missas na época eram celebradas na forma tradicional da Igreja Católica. Como tinha muita facilidade em desenhar e pintar, ainda menor de idade, resolveu trabalhar pintando casas e cartazes. Foi admitido no Cine Santana, que ficava na Rua Direita (atual Conselheiro Franco). Pintava tabuletas anunciando filmes e aprendeu a operar o projetor.
Ainda como operador de cinema, trabalhou depois no Cine Teatro Íris, que ficava na Avenida Senhor dos Passos. Tornou-se músico e, como contrabaixista, integrou a banda da Sociedade Filarmônica Euterpe Feirense, às vezes também cantava. De um dinamismo incomum, foi um dos primeiros corretores de imóveis da cidade. Quando Elisiário Santana, que foi dono do Cine Santana, resolveu lotear parte de sua propriedade, hoje ocupada por várias edificações entre a Rua Comandante Almiro e a Rua Barão de Rio Branco (trecho ao lado do Terminal Rodoviário), chamou Manoel de Emília.
"Manoel, a cada cinco lotes que você vender, você ganha um." Foi a sólida proposta de Elisiário, que obteve como resposta: "O senhor sabe que eu não sou minhoca para gostar de terra. Quero pagamento em dinheiro por cada lote vendido." E assim foi feito. Sem ser craque, gostava de jogar futebol, preferindo a camisa 1, que muitos nem queriam ver. Em 1937, fundou o Floresta FC, com a camisa tricolor, que, a partir de setembro de 1947, passou a ser o Botafogo FC, com o uniforme preto e branco – as mesmas cores do time do Rio de Janeiro.
Interessante é que, apesar de fundar o Botafogo, Manuel de Emília era um "pó de arroz" apaixonado, tanto que teve influência direta na fundação do Fluminense de Feira Futebol Clube, em 1941. Junto com o doutor Wilson Falcão e outros rapazes, foi até o comerciante João Marinho Falcão pedir ajuda para fundar o tricolor e, em contrapartida, fariam campanha para Wilson Falcão chegar à Câmara Municipal. "Não quero filho vagabundo, jogando bola ou político", teria sido a dura resposta de João Marinho, que depois abrandou e concedeu a ajuda.
Manoel de Emília foi um dos criadores da micareta, oficialmente iniciada em 1937. Mas ele sempre dizia que, em 1934, "os rapazes da Família Fadigas fizeram a festa na Rua de Aurora (Rua Desembargador Filinto Bastos)." Em 1937, com o final do carnaval que existia aqui e as chuvas que duraram dias, surgiu a Micareta, na verdade, já feita na Rua de Aurora. Ele também foi um dos fundadores do bloco Filhos do Sol, depois transformado em As Melindrosas. O primeiro era um bloco masculino, e, para torná-lo misto, admitindo mulheres, houve a mudança de nome. Depois dessa integração, surgiu o bloco do Clube Recreativo Ali Babá.
Embora torcedor do Fluminense do Rio e do homônimo de Feira de Santana, ele viveu intensamente o seu Botafogo de Feira de Santana, gastando o que podia com material esportivo, gratificações, transporte e medicamentos. Acompanhava os treinos, carregava material esportivo, era o presidente e praticamente o treinador alado de Zu (do Bar Velho Zu), que ele tratava como se fosse um filho.
Manoel de Emília foi casado com Dona Rosa Ferreira Santos. Essa união gerou 13 filhos, dois dos quais jogaram futebol com destaque: Antônio (Chimbinha) e Arlindo (Lindu). O primeiro, um meia-direita clássico, comparado com Didi, do Botafogo carioca. Lindu era um habilidoso atacante.
Até o final da vida, foi um homem de muita fé. Comparecia a missas e tinha como preceito reunir a família às 18 horas para rezar a Ave Maria, acompanhando a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. "Ele fazia chamada para ver se todos estavam presentes, então rezávamos a Ave Maria", lembra o filho Manoel Fausto dos Santos, professor aposentado, acrescentando que seu pai costumava orar em latim, traduzindo para os filhos.
Um detalhe curioso lembrado pelo professor Manuel Fausto em relação ao pai é que, embora não fumasse, Manoel de Emília consumia um charuto ou até mais em jogos que envolviam seu amado Botafogo de Feira de Santana. "Não era vício de fumar, ele não fumava. Meu pai tinha a mania de mascar um charuto e, quando o Botafogo estava jogando, ele mastigava o charuto até o fim. Acho que era para controlar a emoção. Quando o jogo terminava, ele já havia mastigado e engolido o charuto, sem perceber. Era a tensão, a preocupação com o time", lembra.
No Tanque da Nação, onde viveu com a família durante muito tempo, ele fez a sede do Botafogo e um campo de futebol, além de ter aberto a Rua Ipirá, conseguindo um trator graças à amizade que desfrutava com políticos e a sociedade. Depois, a artéria foi rebatizada com justiça pela Câmara Municipal como Rua Manoel de Emília, como é até hoje. "Ele foi um desportista, um cidadão, um pai exemplar", diz o professor Manoel Fausto, lembrando que o pai faleceu em 1992, aos 94 anos de idade.
Por Zadir Marques Porto