FEIRA 191 ANOS: Padre Ovídio e suas santas realizações
Embora não tenha sido canonizado — e Feira de Santana ainda não tenha tido o privilégio de ver a santificação de um de seus filhos — a vida e as obras de Ovídio Alves de São Boaventura continuam a ser reconhecidas quase um século e meio após seu falecimento. Com uma estátua quase esquecida na praça que leva seu nome, Ovídio foi muito mais do que um padre: sua extrema dedicação à causa social resultou em legados que ainda beneficiam a comunidade.
Filho do rico casal Manoel Alves de São Boaventura e Maria Joaquina de São Boaventura, Ovídio nasceu em 1840 e, desde cedo, demonstrou uma inclinação religiosa em consonância com suas atitudes. Possuía um coração bondoso e uma preocupação genuína com os necessitados. Concluiu seus estudos em Salvador em 1864 e foi ordenado sacerdote no mesmo ano.
Em 1865, ainda jovem, foi nomeado Vigário Coadjutor da Paróquia de Santana. Em 19 de março de 1874, tornou-se Vigário Encomendado. Sua liderança na Igreja Católica se destacou pela dedicação absoluta e uma notável dinâmica em oferecer benefícios à coletividade, evidenciando um verdadeiro espírito empreendedor.
Apesar de sua juventude e riqueza, Ovídio foi um idealista, abdicando de tudo para seguir seu propósito, tornando-se Franciscano e abraçando a pobreza com sinceridade. Ele foi um verdadeiro catequista social, sempre indo além das palavras em sua luta pelos direitos humanos. Defensor fervoroso da liberdade, opôs-se à escravidão, combateu a prostituição e lutou por salários justos para os trabalhadores.
Além de se opor ao trabalho dominical, olhava com extrema compaixão para os pobres e os órfãos. Em 1876, criou o Monte Pio dos Artistas Feirenses para aliviar as carências dos trabalhadores em dificuldades e viúvas. Em 1879, fundou o Asilo Nossa Senhora de Lourdes, que desempenhou um papel relevante na formação de muitos jovens locais e continua sendo um dos melhores educandários da região.
Em 1873, o padre Ovídio também presenteou a cidade com a Filarmônica Vitória, que contribuiu para a formação de músicos e ofereceu entretenimento à população com suas populares retretas e tocatas. Ele também participou da fundação de outras instituições, como a Ordem Terceira da Penitência de São Francisco e a Escola Santana, além de promover a reconstrução da Igreja Matriz e desenvolver um plano de aprendizado agrícola.
Entre 1890 e 1892, o Coronel Intendente Joaquim de Melo Sampaio encomendou uma estátua de Padre Ovídio em Paris, esculpida pelo artista francês André Jacques. No entanto, a estátua só foi instalada na praça adjacente à Igreja Matriz pelo sucessor do intendente, Coronel José Freire de Lima. Inicialmente localizada no centro da praça, a estátua foi posteriormente relocada devido a reformas na área.
Para realizar suas obras de caridade, Ovídio peregrinou por Salvador, São Paulo e Minas Gerais. Herdando muitos escravos de seu pai, um rico fazendeiro, declarou-os livres de acordo com seus princípios. Ovídio Alves de São Boaventura viveu intensamente sua bondade, falecendo precocemente aos 46 anos, em 1886.
Esta reportagem faz parte da série de matérias especiais elaboradas pela Secretaria de Comunicação Social, destacando personalidades feirenses, monumentos, órgãos e empresas que fazem parte da história do município. A iniciativa comemora o aniversário de 191 anos de emancipação político-administrativa de Feira de Santana, celebrado em 18 de setembro.
Por: Zadir Marques Porto