FEIRA 191 ANOS: Artêmia Pires - mãe dedicada é justa sua homenagem
Na parte leste da cidade, com um extraordinário crescimento - há quem já denomine a área de bairro -, a avenida Artêmia Pires é mais um desses fenômenos de expansionismo urbano que parecem só acontecer na Princesa do Sertão. Duas décadas atrás tudo ainda estava começando na chamada Estrada de Jaíba, que era uma via estreita, entre sítios com muitas árvores frutíferas e pequenos animais, ligando a sede do município ao distrito de Jaíba. Lugar aprazível, contudo sem um indicativo de prosperidade tão célere.
Ali, entre outras tantas, existia a Chácara Maria de Lourdes, assim denominada pelo seu proprietário Epiphanio da Silva Freitas logo ao adquirir a área, onde, posteriormente passaria a morar com a esposa Artêmia Pires Freitas e os filhos. Até então todos residiam na rua Barão do Rio Branco, no Centro de Feira de Santana, onde hoje um dos filhos do casal, o conhecido médico pneumologista Renato Pires Freitas, mantém uma clínica especializada.
Todavia muitos ficam curiosos e querem saber quem foi Artêmia Pires Freitas, a patrona daquela região de intensa movimentação e alvo de promessas de duplicação, sob pena de se tornar inviável para a circulação de veículos em pouco tempo. Figura afável, risonha, esmerada dona de casa, extremamente dedicada, Artêmia Pires foi um exemplo de vida, marcada por extremas dificuldades desde tenra infância em Bonita de Mundo Novo.
Mal tinha feito nove anos de idade quando ocorreu a morte do pai, desestruturando a família a ponto de cada um dos sete filhos, todos menores de idade, seguir uma direção na busca de apoio para sobreviver. Artêmia foi para Rui Barbosa, morar com a tia Lourdes que, sem recursos, pouco pôde fazer por ela, nem mesmo colocá-la para estudar - o que mais necessário seria na sua idade. Ainda uma garota tímida, inexperiente e graciosa, aos 16 anos de idade ela foi cortejada pelo jovem Epiphanio da Silva Freitas, oriundo de uma boa família de Bonfim de Feira.
Dono de um caminhão, ele passou por Rui Barbosa onde conheceu a menina Artêmia. Trinta dias depois estavam casados para sempre!. Bonita e muito inteligente, o primeiro passo dela depois de casada e residente em Feira de Santana foi tentar localizar os irmãos, todos espalhados na Bahia e São Paulo desde a morte do pai. E nessa missão de resgatar a família teve o apoio do marido.
A vida seguia até que em 1958, dizendo-se cansado da estrada e tomado conhecimento através do filho Beto que havia um armarinho à venda na recém inaugurada Galeria Caribé, Epiphanio Freitas não titubeou: vendeu o caminhão e procurou Ferreirinha, dono do estabelecimento fechando negócio. Beto que trabalhava na Discolândia, loja especializada na venda de discos (na ocasião eram os LPs), pertencente a Luís Agrário e João Juliano, deixou o emprego e foi tomar conta do armarinho que tinha o nome do dono Ferreirinha e de imediato foi rebatizado como "Armarinho Marta", como permanece até os dias atuais.
Passando a morar no sítio, dona Artêmia, gostava de receber pessoas conhecidas, dentre elas amigos dos filhos, aos quais sempre recepcionava com doces, bolos, pastéis, bons pratos. Em 1987 Artêmia Pires faleceu e em dezembro do ano seguinte, o médico Renato Pires, convidou amigos para um churrasco no sítio e a ausência da estimada anfitriã foi tão sentida que logo propuseram homenageá-la, colocando seu nome na rua ainda em formação. Dentre os defensores da ideia estava o vereador, doutor João Batista.
Estava decidido e o preito era consolidado de forma unânime. "Na verdade, algum tempo depois, o pessoal de uma faculdade tentou mudar o nome, mas houve forte reação da comunidade que não aceitou e saiu colocando placas nos postes e nas cercas com o nome rua Artêmia Pires", relata o filho Cau (Carlos Freitas).
Pelo amor extremo aos filhos e familiares Artêmia Pires, que enfrentou muitas dificuldades na infância sem ao menos ter o direito de estudar, depois de mãe tornou-se poetisa chegando a ter um livro publicado. Nele está a bela homenagem de uma mãe amorosa, a poesia "Frutos do Amor" através da qual é possível se dimensionar a grandeza do seu sentimento.
Esta reportagem faz parte da série de matérias especiais elaboradas pela Secretaria de Comunicação Social destacando personalidades feirenses, monumentos, órgãos e empresas que fazem parte da história do município. A iniciativa comemora o aniversário de 191 anos de emancipação político-administrativa de Feira de Santana, celebrado em 18 de setembro.
Por: Zadir Marques Porto
ATUALIZADA ÀS 08H30 DO DIA 02/10/2024