Das traves para as gravatas: a ponte de Rons Charles

17/10/2024, 11:15 |
Fabrica lenços, suspensórios, gravatas borboleta e outros artigos, como gravatas femininas

Boa altura, magro, elegante, aos 17 anos, em São Paulo, ele fazia “pontes” no time juvenil do Corinthians e tinha tudo para obter sucesso no futebol. Hoje, ainda magro e elegante, na casa dos 50 anos, ele faz sucesso com suas gravatas em Feira de Santana. Sem ser paulista, como muitos pensam, tampouco feirense, Rons Charles tornou-se uma figura querida na cidade, que o elegeu como “o rei das gravatas”.

Do gol, inspirado no goleirão Jairo do Corinthians, para a moda, foi um grande salto sem razão aparente, feito pelo baiano de Itaitê, Rubens Carlos Almeida, que no gol era simplesmente Rubens. Criado em São Paulo desde os 3 anos de idade e morando próximo ao campo do time do seu coração, o caminho não poderia ser outro. Mas a alta moda também o atraía, então foi trabalhar em uma loja que produzia confecções finas.

Depois, avançou mais, desenhando modelos exclusivos. Com muita imaginação, criava vestidos elegantes e modernos com grande sucesso. Em 1986, veio para Feira de Santana, inicialmente trabalhando na loja Tecidos São Paulo, na Avenida Senhor dos Passos, propriedade de Paulo Adolfo Luna, já falecido. Mas não se limitava a vendas, mostrando sua capacidade de estilista. Esteve também na Disbal e na Otan Center. Já em 1988, passou a incluir gravatas em seu repertório de moda. Mas o sucesso veio mesmo em 1993. 

“Eu fui à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e vendi uma gravata ao doutor Vitalmiro Cunha, que foi o meu primeiro cliente. Havia outros advogados, o doutor Hugo Navarro e o doutor José Navarro, que também compraram gravatas. Foi minha primeira venda”. A partir daí, passou a trabalhar apenas um turno na loja, dedicando metade do dia ao fabrico de gravatas.

Hoje, tem um ateliê anexo à residência, onde trabalha com uma senhora. Tem uma clientela fiel, mas sempre surgem pessoas e empresas interessadas em seus produtos, já que também fabrica lenços, suspensórios, gravatas borboleta e outros artigos, como gravatas femininas. A gravata estilo slim é a mais comercial atualmente, com um padrão de 5 a 9 centímetros de largura por 1,50 m de comprimento. O tecido da moda é o Jacquard: “é importado, mais caro, mas tem excelente textura”, garante. Sempre usando uma bela gravata, Rons afirma que “a gravata torna o homem mais elegante”.

Há variações de acordo com as encomendas e períodos, mas ele produz em média de 150 a 200 gravatas por mês. Profissionais liberais, como advogados, professores, funcionários de hotéis, porteiros, representantes comerciais e homens que gostam de se apresentar elegantemente são os maiores compradores. O preço de uma peça varia de acordo com o material usado, a partir de R$ 40 até R$ 150. Uma gravata de seda pura naturalmente custa mais caro, explica. Rons só tem agradecimentos a Feira de Santana: “aqui me estabeleci, fiz amigos e sou reconhecido profissionalmente”.

E foi aqui, isso ele também não esquece, que ganhou o nome artístico. Uma cliente, já falecida, reconhecendo seu talento como estilista, sugeriu que ele usasse um nome mais adequado do que o de batismo: Rubens Carlos Almeida. “Em São Paulo havia uma loja chamada HANS; pronuncia-se Rons e Carlos é Charles. Aí me veio à cabeça Rons Charles. Ela aprovou e assim é até hoje!”.

Pai de dois filhos adultos (um casal), o antigo juvenil do Corinthians continua torcendo pelo timão e pelo sucesso do futebol da Bahia, até porque “faço gravatas do Vitória, do Bahia e agora também do Fluminense”, relata. Quanto à decisão de deixar o futebol para abraçar a profissão de estilista de moda, ele não busca explicações, por entender que está bem assim. “Deus sabe o que faz”, conclui Rons Charles, o “rei das gravatas”.

Por: Zadir Marques Porto



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