REPORTAGEM ESPECIAL: Técnica inovadora em cirurgia salva vida de bebę nascida no Hospital da Mulher

9/7/2019, 19:59h | Foto: Andrews Pedra Branca

O somatório de forças com a parceria entre a Prefeitura Municipal de Feira de Santana, através do Hospital Inácia Pinto dos Santos (HIPS) - o Hospital da Mulher - e o Hospital Otorrinos/Multiclin, unidade feirense credenciada ao SUS, salvou a vida da recém-nascida A.S.G. Ela completou cinco meses de vida e por todo esse tempo esteve internada onde nasceu, no Hospital da Mulher, a espera de uma cirurgia para corrigir um problema raro de saúde: a obstrução nasal por formação de um septo ósseo e/ou membranoso, que impede a comunicação entre a cavidade nasal posterior e a nasofaringe.

Malformação congênita, a ‘atresia de coanas’ em A.S.G foi descoberta após o Hospital da Mulher encaminha-la para exames no hospital especializado Otorrinos. A família da bebê aguardou pela regulação, junto ao Governo do Estado, para que fosse transferida e operada.

Depois de uma longa espera, quase dois meses, um contato com o  diretor-presidente da unidade hospitalar e especialista em Rinologia e Cirurgia Plástica da Face, Washington Almeida, viabilizou a solução. Ele se interessou pelo tratamento, em razão de sua raridade.  Seria um futuro “caso de estudo”, para os médicos.

Convidou o seu colega Antônio Carlos Cedin, otorrinolaringologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, e juntos fizeram o procedimento para  correção no centro cirúrgico do próprio Hospital Otorrinos, com apoio da equipe técnica do Hospital da Mulher.

A cirurgia por videoendoscopia transnasal foi um sucesso e o recém-nascido apresentava boa condição pré-operatório, “apesar de estar abaixo do peso em decorrência da dificuldade para se alimentar”, analisa Cedin.

Tecido do interior do nariz usado para facilitar cicatrização

A cirurgia ocorreu por meio de método reconhecido internacionalmente e desenvolvido pelo renomado especialista Antônio Carlos Cedin (foto), que usa tecido do interior do nariz do próprio paciente para facilitar a cicatrização e reduz a necessidade de uma nova cirurgia de 30% para 9%.

O procedimento inovador, com publicação na revista da Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, consiste no aproveitamento e modelagem de retalhos do tecido que reveste as mucosas das cavidades nasais, proporcionando rápida cicatrização.

“É a forma mais prática que passamos a utilizar confeccionando os retalhos, por acesso transnasal e videoendoscopia, usando os tecidos nasais e fixando-os com cola biológica de fibrina. Eliminamos a necessidade de utilização do uso de moldes pós-operatórios e, desta forma, diminui complicações infecciosas e traumáticas”, explica o especialista.

De acordo com o médico de São Paulo, o tempo de internação também é mais curto, e a permanência do paciente em ambiente hospitalar diminui de uma semana para um ou dois dias.

Os sintomas da atresia coanal congênita

A atresia coanal congênita acomete um em cada 8 mil nascidos vivos e coloca em risco a vida do paciente. Entre os sintomas, apresenta-se a insuficiência respiratória e a cianose intermitente (coloração azul-arroxeada da pele, embaixo das unhas ou nas mucosas devido à má oxigenação do sangue arterial) exacerbada pelo choro. Segundo o doutor Washington Almeida (foto), diretor-presidente do Hospital Otorrinos, unidade onde ocorreu o procedimento, e especialista em Rinologia e Cirurgia Plástica da Face,  o tratamento cirúrgico imediato ainda é a única opção terapêutica.

“Sonhei com este dia”, diz mãe da bebê

Aliviada e com sorriso largo no rosto, Vitória Manuela Galdino de Lima (foto), mãe da recém-nascida, afirma que esperou com muita fé por este momento. “Era doloroso vê-la sofrer. Eu sonhei com esse dia de hoje. Não tenho palavras para agradecer a cada um que olhou por minha filha”, diz ela, reconhecendo o esforço de todos, especialmente do Hospital da Mulher, que teve papel decisivo para a viabilização da cirurgia. Agora, ela intensifica os cuidados à criança em sua residência, ao lado dos familiares.

Recuperação em UTI Neonatal

A recuperação da bêbê, pós-cirurgia, foi em um dos leitos da UTI Neonatal do Hospital Inácia Pinto dos Santos (Hospital da Mulher). “Deslocamos a paciente com a acompanhante [mãe] em ambulância do hospital e, logo após a cirurgia, trouxemos a paciente para se recuperar cuidadosamente na nossa UTI”, relata a  diretora-presidente da Fundação Hospitalar de Feira de Santana (FHFS), Gilberte Lucas (foto). Três dias depois a criança já teve alta.

Todos os exames necessários para a cirurgia foram realizados no próprio Hospital da Mulher. “O governo do prefeito Colbert Martins Filho deu todo o apoio e nos empenhamos para conseguir este excelente resultado”.

Custo seria “muito alto” caso cirurgia fosse em SP

Para a diretora do Hospital Inácia Pinto dos Santos (Hospital da Mulher), Charline Portugal, a parceria reafirma o compromisso com a saúde, por parte da gestão municipal. “Essa é nossa responsabilidade, enquanto instituição pública: buscar todos os meios para bem atender a comunidade. Nossa equipe não mediu esforços para buscar parceiros e proporcionar à família um procedimento cirúrgico com custo muito alto se fosse realizado em São Paulo”.