Ilustres moradoras da Avenida Senhor dos Passos, as irmãs Dantas marcaram época na cultura local
A Avenida Senhor dos Passos, tantas vezes cantada pelos nossos poetas, como a saudosa Irma Amorim, é exaltada na crônica de Neuza de Brito Carneiro. Com o título “A Casa das coisas boas: Uma homenagem a quem gostava de fazer alegria”, a escritora e musicista lembra personalidades que viveram na avenida, em especial as irmãs Dantas – Alcina, Ester e Alice que muito contribuíram para o engrandecimento artístico e cultural da terra de Georgina Erismann, Aloisio Resende e tantos outros. Vale a pena a leitura do artigo da também poetisa e artista plástica. (Adilson Simas)
Neuza de Brito Carneiro é escritora e musicista
A Casa das coisas boas: Uma homenagem a quem gostava de fazer alegria
A Avenida Senhor dos Passos foi cenário para inúmeras coisas boas. Na década de 1950, época da minha infância e adolescência, muitos personagens ilustres moravam nela. Recordo de muitos deles e posso citar alguns, começando por Nafitalino Vieira, minha lembrança maior, meu pai, famoso fotógrafo daquela época.
Havia também profª Helena Assis, Dr. Otto Schimdt, Dr. Renato Sá, seus filhos Renatinho e Ieda Sá; Profª Maria Luiza, seus filhos Carlos Augusto, Moacir e ( ); Seu Lopes e sua esposa que tinha uma pensão em frente à Praça Bernardino Bahia, seus filhos Gildásio, Riso, Ana Maria e Licinha; Francisco Pinto, Profª Diva, Iara Cunha e sua família; João Marinho Falcão e seus filhos Alfredinho e Xandinha; Dr. Wilson Falcão e filhos; seu Osvaldo (farmacêutico) e sua esposa D. Tinga, com suas filhas Vera e Sinai; Dr. Mário de Paula, sua filha Marli de Paula; Osvaldo Franco (Ioiô Goleiro), sua esposa, Olga e suas filhas Sônia e Tânia; Seu Bubu, sua filha Milma, e tantos outros enlaçados pela amizade sincera, mas cujos nomes agora me fogem a memória.
Porém, quero falar de uma dessas residências, cujas moradoras tinham o dom de fazer alegria. Trata-se das irmãs Dantas: Alcina, Ester (mais conhecida como D. Zinha) e Alice, residentes na casa que ficava na esquina com a Rua Intendente Freire, onde hoje existe uma loja de roupas femininas.
Alice estava viúva do seu terceiro marido, mas Alcina e D. Zinha não se casaram. Apesar de já não serem jovens, elas eram encantadoras mesmo assim. Elas tocavam e ensinavam a tocar piano, acordeon, violino, violão e bandolim.
Muitos alunos seus eram pessoas bem conhecidas como João Andrade (violino), Tiago (violino), Manoel (acordeon), Cleoilda (bandolim), Marquize (piano), Neuza (piano). Marli (piano), Gislaine (piano), José Ferreira Carneiro (piano e violino, e que depois seria o meu primeiro marido), Marluce (violino) e tantos outros cujos nomes também me fogem à memória no momento.
As irmãs Dantas restauravam e esculpiam imagens de madeira, os santos de sua clientela católica, assim como elas eram. Elas também acompanhavam no órgão (harmônio) as missas da Igreja dos Remédios; assim como acompanhavam ao piano os filmes mudos exibidos no antigo Cine Santana.
Elas ensinavam teatro e montavam espetáculos, levando suas peças teatrais tanto aqui em Feira de Santana, no palco da elegante Rádio Cultura, como também em cidades circunvizinhas (participei de algumas desses grupos). Elas mantinham programa de rádio ao vivo, aos domingos, programa de calouros, programas infantis, com cantores mirins bem badalados, concursos de naturezas diversas, nesse mesmo referido palco da Rádio Cultura; concertos com seus alunos de música, mantendo uma plateia de elite satisfeita com aqueles eventos.
Elas eram devotas de São Cosme e São Damião e para eles promoviam festas bem animadas com o famoso caruru em sua bem frequentada residência. Elas bordavam, costuravam, sabiam dar conselhos, enfim, exerciam seus brilhantes dons com dedicação e alegria.
Delas jamais ouvimos queixas, mas sempre ouvimos coisas boas e histórias edificantes. Elas jamais deixavam de atender com seus préstimos a quem as procurasse. Elas eram mulheres modernas e cheias de alegrias, estando bem adiante do tempo em que viveram.
Elas foram minhas primeiras mestras nas artes que abracei e assim foram para muitos e muitos feirenses. Por isso, nada mais justo do que lhes prestar esta singela homenagem, embora tardia, mas em tempo oportuno.
Sei que muitos se lembrarão do que aqui está relatado, por terem feito parte dessa história que permanece viva em nossos corações. Quem jamais se esquecerá daquela casa tão cheia de alegria? Resta-nos, pois, uma eterna saudade, este sentimento que imortaliza aqueles a quem amamos.